INÉDITOS
INÉDITOS
Permanecem aqui alguns textos não publicados, em gaveta aberta.
Permanecem aqui alguns textos não publicados, em gaveta aberta.
A Revolução dos Homens Sentados
edições humanistas | Da Declinação dos Direitos
A Revolução dos Homens Sentados reúne textos de narrativa breve. Ensaiando o tema da revolução, as narrativas presentes na obra A Revolução dos Homens Sentados, título de um dos textos reunidos, apresentam-se em diferentes construções e estilos que se entrelaçam e não exigem distinção. O leitor assiste a brevíssimos diálogos, alguns interiores, sem excesso que distraia, que poderia encenar no seu imaginário de assuntos improváveis, bem como a episódios fantasistas, assentes na realidade tragicómica do quotidiano. Mais uma vez a escrita se experimenta, cede a pena à ideia livre, confiando a precisão à disciplina estética de textos que nada devem, nada temem, somente procuram despir uma lúcida, eloquente e acutilante verdade. Encerra o conjunto de textos, simbolicamente publicados no dia 25 de Abril de 2020, uma ode à Revolução de 25 de Abril de 1974 e a Salgueiro Maia, Capitão de Abril.
«Um estava sentado. Outro passou e entregou-lhe a pergunta, O que espera? Inclinou-se para acomodar a resposta, caso viesse baixinho. A revolução, foi o que o sentado lhe disse. O que estava inclinado aguardou reflexão e depois disse, E como se faz a revolução de homens sentados? O sentado disse então para o inclinado, No vagar está o segredo. O homem inclinado baixou-se mais ainda para ouvir o que fosse, Então e qual é?, perguntou. O homem sentado respondeu, Ela tem de se fazer na gente, observo-a daqui para ver se vem inteira, sem alternativa, ainda não está pronta. Não está pronta, repetiu o homem inclinado. Ergueu-se e declarou, Sendo assim, avise se faz favor quando chegar. O homem sentado elevou o queixo para o homem levantado e disse, Também vem à revolução que houver na gente? O homem levantado disse, Pois sim, se somos feitos das mesmas necessidades, das mesmas faltas, confio que, se a revolução se fizer a si, lhe hei de ser próximo. O homem sentado sorriu e o homem levantado piscou o olho. Estavam combinados. Quando a revolução precisou de se fazer nos homens, tanto os sentados como os levantados saíram à rua.»