INÉDITOS
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Permanecem aqui alguns textos não publicados, em gaveta aberta.
Permanecem aqui alguns textos não publicados, em gaveta aberta.
Choram Mães-Casa seus Filhos-Metade
edições humanistas | Do Outro que Me Existe
Choram Mães-Casa seus Filhos-Metade apresenta sete breves histórias que franqueiam, sem concederem à amenidade, a violenta vivência, ainda hoje, de muitas crianças em vários lugares do mundo. São textos-nus, de força crua, inexoráveis, não complacentes com o esquecimento. Transporta-se para a literatura a verdade sem ambiguidade e sem transformação, a não ser a da estética humanista do quase-poema. Desobedecendo uma vez mais a convencionalismos literários ou sequer deles consciente, impõe-se aos textos somente o ritmo da rudeza e o fôlego da sensibilidade que dessa brutalidade se extrai, concluindo-se em narrativas breves delicadamente cruas, irredutivelmente humanas. Não obstante exalarem os textos reais existências na mais dura das suas possibilidades, a escrita nunca compromete o lugar da literatura, antes a exalta à função de consciência. O livro recorda, em diversas citações, a Convenção sobre os Direitos das Crianças, a Declaração Universal dos Direitos Humanos e a Convenção de Genebra relativa ao Estatuto dos Refugiados. Constrange o leitor ao desassossego da humanidade que nele se agite e dificilmente se separará do que for capaz de transpor as suas páginas. Encontra-se nesta série o texto O Naufrágio, que integrou os microcontos nacionais finalistas selecionados pela Escrever Escrever, no âmbito do European Association of Creative Writing Programmes (EACWP) Flash Fiction Contest III Ed. 2020.
«Eles são dez. Um é velho, outro rapaz, pai e seu filho, talvez irmãos. Pensam nos amores que deixaram, esconderam-lhes que não sabem se conseguirão voltar. Há uma mulher e uma criança, que procura nos olhos da mãe pelo medo que pode ter. Está um homem que nenhum dos outros conhece, olha além do mar negro, teme distrair-se da esperança. Há uma família. O pai segura todos nos seus braços, finge-se âncora. Há um menino, está sozinho e não sabe enganar o medo. A criança olha-o, procura-lhe coincidências. Ninguém ainda hoje sabe dele. Eles eram dez. Eles eram dez mil.»